26 de março de 2015

O amigo imaginário da minha filha


Eu fiquei assustada com o que vi... E ao mesmo tempo nervosa... Eu não sei dizer ao certo o que senti naquele momento. Minha filha tinha apenas seis anos na época. Eu não me incomodava de ela ter um amigo imaginário. Achava até saudável. Jamie me dizia como ele era. Dizia que tinha pouco mais de 2 metros, era bem magro e sua pele era acinzentada. Que seus braços na verdade eram tentáculos cobertos de espinhos e que apesar de ter aparência de um demônio, era um bom amigo. Eu sorria sempre que Jamie me falava sobre o que ele dizia. Sobre as histórias que ele contava. Ela sempre foi sozinha. Não gostava de ter tantos amigos. Eu não podia dar a ela um irmão por causa de uma doença minha. Em uma manhã de sábado, Jamie foi brincar em uma praça que havia perto de minha antiga casa. Eu a via se balançar e rir para o nada, provavelmente para seu amigo imaginário. Por um momento eu observei um homem sentado em um banco segurando uma bala e um lenço. Logo, fiquei preocupada. Virei-me para chamar Jamie, mas ela não estava mais no balanço. Eu a vi descendo uma escada que dava direto para um beco. Jamie sempre brincava lá, mas nesse dia, fiquei preocupada. Aquele homem não me parecia normal. Assim que vi ele se levantar e andar em direção a minha filha, o segui, me escondendo. Eu queria pegar esse filho da puta. Minha filha estava conversando com seu amigo. Jack era seu nome. O homem se aproximava mais a cada segundo. Até que ele lhe ofereceu a bala. Jamie levantou-se e o encarou com um olhar sério. “Jack não gosta de você” ela disse. Em seguida, alguns objetos que foram deixados no beco começaram a girar em volta dela. Desde papéis de doces até pedaços de madeira. Eu observava aquilo boquiaberta. Sequer conseguia me mover. Logo, vi o homem ser jogado com força contra a parede. Jamie o encarava enquanto estava inconsciente. Após alguns minutos, o homem levantou-se. Ela ergueu seu dedo e no mesmo momento, o homem também foi erguido. Os objetos pararam de girar em volta de Jamie e caíram no chão. Ela olhou para cima e foi nesse momento em que vi... Seus olhos... Estavam completamente negros. Eu a vi o encarar nos olhos e sorrir. Seu sorriso parecia maior que o normal. Seus dentes estavam maiores. Seu rosto estava distorcido. Jamie ergueu sua mão e a fechou. O homem parecia que estava sendo enforcado. Voltei a olhar para Jamie e havia alguém atrás dela. Dois tentáculos com espinhos repousavam sobre seus ombros. Olhei mais acima. As costelas de quem quer que estivesse ali estavam expostas. A pele da criatura era acinzentada. Logo, eu vi seu rosto. Seu sorriso era enorme. Seus olhos eram negros e repuxados, como os de um asiático, mas maiores. Seus cabelos alcançavam a altura dos ombros. Era como Jamie descrevia seu amigo imaginário. Eu gritei. Após meu grito de espanto, olhei para o pedófilo, que estava com seu pescoço quebrado. Morto. Caído no chão em uma posição perturbadora. Jamie olhou para mim e em seguida, caiu inconsciente. Peguei-a no colo imediatamente e corri dali. Enquanto eu saía, olhei para trás por um momento e vi aquela criatura abrir a boca e engolir aquele homem.
Nunca me esquecerei daquilo. Foi um trauma para mim. Minha filha não se lembra de tal acontecimento. Me mudei daquele lugar... Para bem longe. Ela agora está com 14 anos. Prometeu para mim que nunca mais iria ter um amigo imaginário... Quem quer que seja. Eu sorri e a abracei... Mas não confio em sua palavra. Esses dias, a ouvi conversando com mais alguém no quarto. Eu não ouvia uma segunda voz. Apenas a voz fina de Jamie.
 


(escrita por Natalie Mello)

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